O Padre responde - Mons. Raimundo Possidônio: Música de acordo com a Liturgia

Jornal Voz de Nazaré - Edição de 29 de julho a 04 de agosto de 2011


Monsenhor, particularmente, eu me incomodo com essas novas modalidades de músicas ditas "católicas", com bandas de rock e forró, por exemplo, que cantam "em nome do Senhor". Mas eu percebi que meus netos gostam de ouvi-las, mesmo sem participarem muito da Igreja. Ainda sou do tempo que ouvíamos Padre Zezinho, com sua voz melodiosa e letras cheias de evangelização e lirismo, não essa gritaria e sons estridentes de guitarras elétricas nas músicas de louvor de hoje em dia. Aliás, isso é louvor? Devo mudar minha visão sobre o gosto musical católico dos meus netos? (Antonio Nazareno, Paróquia Nossa Senhora da Conceição, Cidade Velha)

Antonio, para responder à sua pergunta precisaríamos de um espaço maior (um artigo, talvez, um curso quem sabe!), mas me atenho a dizer apenas o seguinte: devemos distinguir os "tipos" de música/canto que usamos na Igreja. Há cantos litúrgicos que utilizamos nas missas e, para que sejam cantados nas Igrejas, têm que obedecer a certas regras. Temos os cantos religiosos que são cantos que as pessoas elaboram sem o rigor necessário, às vezes são cantos devocionais - ligados a um santo ou santa, a Nossa Senhora, a uma situação da vida ou a uma festa patronal - ou surgem de uma inspiração de um poeta ou cantor... Há os cantos de animação ou populares que se usam em encontros, santas missões, festivais, retiros... Falando assim parece difícil distinguir uns dos outros. Infelizmente nem todos que cantam/tocam têm formação litúrgica e, às vezes, não aceitam orientações de quem sabe. Pensam que podem cantar qualquer canto em qualquer hora e em qualquer lugar. Basta que numa frase haja a palavra oferenda, ofertas... para se tornar canto das oferendas... Basta que haja uma palavra referente à eucaristia... vira canto de comunhão. Mas, o conteúdo não condiz com o momento celebrativo de acordo com os princípios litúrgicos. Além do mais, quando se prepara uma celebração litúrgica, qualquer que seja, o padre, a equipe de liturgia, os músicos deveriam se encontrar e preparar o ritual, para haver uma sintonia, uma integração plena e total do rito. Caso isso não aconteça, cada um faz o que bem entende, canta o que bem entende, diz o que bem quer e a Missa perde o seu encanto, perde muito da sua finalidade.

Um comentário final: a Igreja na vivência da diversidade - um dom divino - tem lugar nessa questão dos cantos para diversos tipos musicais. Há músicas belíssimas que têm um conteúdo muito significativo, como há músicas que só refletem o gosto de quem canta ou criou a música, como há músicas de conteúdo e ritmo muito duvidoso. É necessário discernimento para evitar que muitas dessas músicas entrem na liturgia eucarística porque a pessoa gosta ou porque gera um sentimento momentâneo de prazer, de exaltação ou mesmo de louvor e a gente ache isso normal. É diferente de um encontro, um seminário, um retiro, um festival... A CNBB tem um setor que tem tratado essa questão com muito equilíbrio e profundidade. Seria bom consultar para aprender. Há cursos de formação litúrgica - inclusive para quem canta/toca - promovido pelo setor litúrgico da Arquidiocese. Portanto, oportunidades não faltam para aprofundar e atualizar a formação litúrgica e realizar de modo correto a beleza do nosso louvor a Deus.

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